Qualquer observador que queira encontrar uma ave rara, deve estar muito atento aos recursos online, raramente uma ave “perde-se” sozinha, normalmente faz parte de um conjunto de aves que foram desviadas da rota migratória por um evento climatérico. No caso dos grasspipers as espécies americanas fazem uma migração ao longo da costa leste da América do norte até aos locais de invernada na América do sul, é muito frequente serem apanhadas por uma frente de baixas pressões em deslocação para leste, estas frentes que produzem quando chegam a Portugal chuva e ventos de oeste empurra à sua frente muitas migradoras, muitas delas irão parar aos Açores, outras à Irlanda, outras ainda ao norte da Península ibérica, por isso deve-se consultar regularmente os sites relevantes e se de repente começarem a chover limícolas americanas é altura de sair para o campo e encontrar algumas!
Pilrito-de-colete Calidris melanotos
Esta pequena limícola pouco maior que um pilrito-comum é a mais comum das espécies raras registadas em Portugal, com 26 registos aceites para Portugal até 2010 (ver nota 1), o elevado numero de ocorrências esta em linha com o que acontece nas ilhas britânicas, onde é tão regular que não é considerado uma raridade, em Portugal é actualmente anual, ou seja ocorre em media uma vez por ano, uma das razões para isso é que frequenta habitats mais tradicionais que outros grasspipers, como estuários e margens de lagoas interiores, ou seja frequenta locais mais visitados, para alem disso é uma espécie de fácil identificação, tal faz com que seja mais detectável que outras espécies.
O período de ocorrência esta fortemente concentrado em Setembro e Outubro reflectindo o período migratório desta espécie para os locais de invernada a sul, embora esta espécie seja predominantemente americana, existe uma população na Sibéria que pode fazer a migração outonal para oeste, alguns dos registos em Espanha parecem encaixar nesta população.
Esta espécie deve portanto ser procurada nas margens de lagoas de água doce, arrozais, salinas e prados alagados, em Setembro ou Outubro, ela pode estar associada com outros calidris nomeadamente Calidris alpina.
A TDA é o equivalente americano da tarambola-dourada-europeia e tal como esta prefere terrenos secos. Foram homologados 13 registos até 2010 (ver nota 2), todos eles no centro e sul do pais, no entanto desde então a espécie foi detectada maioritariamente no centro e norte do pais, note-se que os registos a norte do Mondego foram feitos à posteriori com base em fotos publicadas na internet e que tinham sido identificadas tanto como Tarambola-cinzenta (TC) ou Tarambola-dourada-europeia (TDE), isso leva-me a crer que a espécie é mais regular do que o numero de registos leva a crer e que está simplesmente a passar despercebida, tal como a espécie anterior ela é muito frequente nas ilhas Britânicas, mas ao contrario do Pilrito-de-colete é de difícil detecção.
A melhor altura para procurar esta ave é em Setembro e Outubro, em prados costeiros que sejam frequentados por TDE mas também em estuários em zonas de lama, pode também ocorrer em arrozais e margens de lagoas/albufeiras.
Separar a TDA da TC:
A TC é uma espécie tipicamente estuarina que se alimenta em zonas de lama, a TDA prefere pastagens e campos alagados tal como a TDE mas indivíduos isolados podem ocorrer junto das TC. A primeira coisa a reparar é na estrutura, a TDA é muito mais pequena que a TC com um bico muito mais fino e curto, e um aspecto muito mais elegante, para alem disso a TC não tem qualquer dourado na plumagem em nenhuma fase do seu ciclo de vida, qualquer ave com aspecto cinzento mas com algum dourado na plumagem é automaticamente suspeita, a TC tem preto nas axilas por isso qualquer ave suspeita deverá apresentar branco na parte inferior da asa se for TDE ou castanho creme se for TDA.
Separar a TDA da TDE:
Para separar a TDA da TDE um dos pontos mais importante é que ao contrário do que o nome sugere a tarambola-dourada-americana não é realmente dourada, ou melhor não o é nas plumagem que ocorrem mais frequentemente em Portugal, assim qualquer tarambola-dourada que em comparação directa com outras tarambolas douradas pareça menos dourada, com um supercilio branco muito forte, e seja de menor tamanho e de estrutura mais delicada deve ser observada com muita atenção, até que a parte inferior da asa seja mostrada, na TDA a mesma é acastanhada na TDE é branca. Os adultos que aparecem em Portugal no período pós-nupcial estão normalmente em muda e são muito escuros com um aspecto a lembrar mais uma TC mas com algumas penas douradas no manto e o preto nas partes inferiores a estender-se até as subcaudais. Os juvenis são mais castanhos que uma TDA com a coroa a ser a zona mais dourada, em comparação directa com as TDA o menor tamanho, estrutura delicada e coloração castanha salta á vista.
Qualquer tarambola isolada é suspeita! Todas as tarambolas são aves de bando que migram em bando, uma ave isolada está por definição perdida, e deve ser verificada com atenção.
A parte três será sobre o Corredor e o Pilrito-canela
1998, 2-Out, Ria de Alvor, M Bolton (Pardela 11)
1998, 4-Out, Ria de Alvor, C Beale (Anuário 1)
Ou seja, em Outubro de 1998 na Ria de Alvor foram vistos com um intervalo de dois dias indivíduos desta espécie, é difícil de acreditar que se tratassem de dois indivíduos diferentes, é mais provável que dada a diferença na data de publicação os dois registos tenham sido submetidos em anos diferentes e não se tenha verificado se se podia tratar de uma ave de um registo anterior.
Nota 2: Foram publicados como estando homologados pelo CPR 13 registos, no entanto no anuário 7 são contabilizados apenas 11, o problema é que no anuário 3 aparecem 7 registos contabilizados quando deveriam ser 9, esses dois registos “perdidos” nunca mais voltaram a ser contabilizados.
Postado por: Pedro Ramalho